O Coletivo Castanheira é uma organização feminista, ambientalista, não governamental, aglutinadora de jovens mulheres da cidade de Porto Velho, provendo o desenvolvimento humano integrado e sustentável, buscando a justiça social e a equidade de gênero através da articulação, difusão de informação, educação popular, e pesquisa-ação.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

A poesia contestadora de Maria Teresa Horta


 A militância política feminista marcou desde início da década de sessenta a carreira da poetisa portuguesa Maria Teresa Horta. Empenhada na luta feminista, sempre fez da palavra uma maneira de enfrentar a opressão social/sexual e buscar liberdade de expressão. Na leitura do conjunto da obra é perceptível a marca de duas vertentes que se cruzam e dialogam: o erotismos e o engajamento político.
Na década de sessenta ocorre a publicação do primeiro livro de poesiaEspelho inicial (1960), seguido por Tatuagem e Cidades submersas (1961). Nesses livros há uma surpreendente ruptura radical da linguagem poética, visto que Horta já se fazia membro atuante dos mais sugestivos Movimentos de Vanguarda que começavam a agitar os meios intelectuais e acadêmicos portugueses (Poesia 61 e Poesia Experimental). A ruptura com a discursividade da linguagem, como um dos aspectos mais significativos na proposta das vanguardas, faz da poesia um jogo de imagens caóticas feitas de metáforas e sinestesias:

  A poetisa não conseguiu, entretanto, ser totalmente fiel aos princípios dos movimentos, ou seja, romper com elementos simbólicos que se constituíram como uma marca primordial de seus poemas. A presença do simbólico é o aspecto revolucionário da poesia mais intensivo, pois o comprometimento com os movimentos sociais, sobretudo o feminismo, fez a poesia de Horta uma verdadeira revolução de linguagem poética. Uma poética que foi muito além dos jogos de linguagem para buscar um envolvimento da poesia com as questões humanas que vão além das adversidades de seu tempo e de seu país.   
 Nesse sentido, a força do erotismo aparece em 1962 em Verão coincidente de maneira clara e, sobretudo, através do ponto de vista da mulher, até então sempre filtrado pela tradição patriarcal, mesmo na voz de poetisas distantes das questões do feminismo. Esse ponto de vista feminino se consolida como um fato inédito na poesia portuguesa, pois até então o erotismo só se manifestara como presença velada, como já revelara a poesia de Florbela Espanca, no início da década de vinte do século passado, perturbando intensamente a crítica literária da época que não poupou Espanca de suas farpas preconceituosas em relação à dicção feminina que, ao ver dos críticos, deveria ser mais contida.


Além do erotismo emergente, a palavra poética revela significativamente o aspecto datado, devido ao engajamento da Horta na luta pela emancipação feminina e pelo envolvimento nas questões políticas revolucionárias que marcaram decisivamente as décadas de sessenta e setenta em Portugal. Assim, o início da valorização do corpo como lugar privilegiado de prazer e de expressão se torna um indício de que a luta das mulheres começa a surtir efeito.
 As barreiras e interdições, de certa maneira estão derrubadas graças à luta das mulheres engajadas no feminismo, rompendo suas amarras. O amor é o grande tema de todos os tempos que não perde nem um pouco de sua força. Ele se transforma em Só de amor pela busca de um novo significado para o nosso tempo de banalização. A força da poesia de sacudir e balançar a ordem determinada do mundo, pode também devolver à temática amorosa o poder de encantamento que sempre seduziu os seres humanos em todos os tempos.



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